segunda-feira, 29 de junho de 2009


PREPARAÇÃO FAMILIAR


O problema familiar, por mais que nos despreocupemos dele, buscando fugir à responsabilidade direta, constituirá sempre uma das questões fundamentais da felicidade humana.
É um erro tremendo supor que a morte apaga as recordações, à maneira da esponja que absorve o vinagre, na limpeza do vaso culinário. Certamente, os laços menos dignos terminam na sombra do sepulcro, quando suportados valorosamente, e encarados como sacrifício purificador, na existência material. Noventa per cento, talvez, dos matrimônios, infelizes pela ausência de afinidade espiritual, extinguem-se com a morte, que liberta naturalmente as vítimas dos grilhões e dos algozes.

O Evangelho de Jesus ensina entre os vivos que Deus não é Deus de mortos, e os que perderam a indumentária carnal, sentindo-se mais vivos que nunca, acrescentam que Deus não é Deus de condenados. Que os Otelos da Terra se previnam, em suas relações com as Desdêmonas virtuosas do mundo, porque, além do cadáver, não poderão apunhalar as esposas livres da carne, e as mulheres ciumentas, desgrenhadas dentro da noite, a gritarem blasfêmias injuriosas contra os maridos inocentes, preparem-se para longo tempo de separação na esfera invisível, onde, na melhor das hipóteses, receberão serviços reeducativos, em seu próprio favor.

A morte seria um monstro terrível se consolidasse as algemas terrestres naqueles que toleraram heroicamente a tirania e o egoísmo de outrem. Além de seus muros de sombra, há castelos sublimes para os que amaram com alma e entesouraram, com o sentimento mais puro, o ideal e a esperança numa vida melhor, e há também precipícios escuros, por onde descem os revoltados, em desespero, por não poderem oprimir e martirizar, por mais tempo, os corações devotados e sensíveis, de que se rodeavam na Terra.

Feita a ressalva, alusiva aos princípios de afinidades que regem a sociedade espiritual, recordemos a missão educativa que o mundo confere ao coração dos pais, em nome de Deus. Constituiria ato casual da Natureza a reunião de duas criaturas, convertidas em pai e mãe de diversos seres? Mera eventualidade o erguimento de um berço enfeitado de flores?

Diz a Medicina que o fato se resume a simples acontecimento biológico, o estatuto político relaciona mais um habitante a enriquecer o povoamento do solo e a Teologia sustenta que o Criador acaba de formar outra alma, destinada ao teatro da vida, enquanto a instituição doméstica celebra a ocorrência com desvairada alegria, muito bela sem dúvida, mas vizinha da irreflexão e da irresponsabilidade. Ê razoável que os pais sintam emoções verdadeiramente sublimes e acolham o rebento de seu amor com indefiníveis transportes de júbilo.

Todavia, é necessário acrescentar que a galinha e a leoa fazem o mesmo. Certas aves do sul da Europa chegam a roubar pequeninas jóias de damas ricas, a fim de adornarem o ninho venturoso pela chegada dos filhotinhos. Por esse motivo, no círculo da Humanidade, é preciso instituir serviços eficientes contra o carinho inoportuno e esterilizante.

Os filhos não são almas criadas no instante do nascimento, conforme as velhas afirmativas do sacerdócio organizado. São companheiros espirituais de lutas antigas, a quem pagamos débitos sagrados ou de quem recebemos alegrias puras, por créditos de outro tempo. O instituto da família é cadinho sublime de purificação e o esquecimento dessa verdade custa-nos alto preço na vida espiritual.

É lamentável nosso estado Dalma, quando voltamos à vida livre, de coração escravizado ao campo inferior do mundo, em virtude do olvido de nossas obrigações paternais. Em vão, tentaremos ensinar tardiamente as lições da realidade legítima; debalde nos abeiraremos dos corações amados, para recordar a eternidade da vida. Semelhantes impulsos se verificam fora da ocasião desejável, porque a fantasia já solidificou a sua obra e a ilusão modificou a paisagem natural do caminho. Não valem mais o pranto e a lamentação. É indispensável aguardar o tempo da misericórdia, já que menosprezamos o tempo do serviço!

Precatem-se, pois, os pais e mães terrestres, para que não se percam, envenenando o coração dos filhos, à distância do dever e do trabalho. Aniquilem o egoísmo afetuoso que os cega, se não querem cavar o abismo futuro! ...

Enquanto escrevo, ouço um amigo, já arrebatado igualmente da vida humana, que me pede endereçar aos companheiros encarnados as seguintes ponderações:

- Bem-aventurados os pais pobres de dinheiro ou renome, que não tolhem a iniciativa própria dos filhos, nos caminhos da edificação terrestre! Através do trabalho áspero e duro, de decepções e dificuldades, ensinam aos rebentos de seu lar que são irmãos dos batalhadores anônimos do mundo, dos humildes, dos calejados, construindo-lhes a ventura em bases sólidas e formando-lhes o coração na fé e no trabalho, antes que venham a perverter o cérebro com vaidades e fantasias! Esses, sim, podem abandonar a Terra, tranquilamente, quando a morte lhes cerrar as pálpebras cansadas... Mas, infortunados serão todos os pais ricos de bagagens mundanas, que desfiguram a alma dos filhos, impondo-lhes mentirosa superioridade pelos artificialismos da instrução paga, carregando-lhes a mente de concepções prejudiciais, acerca do mundo e da vida, pelo exercício condenável de uma ternura falsa! Esses, esperem pelas contas escabrosas, porque, de fato, tentaram enganar a Deus, distanciando-lhe os filhos da verdade e da luz divina...

Depois da morte do corpo, sentirão a dor de se verem esquecidos no dia imediato ao dos funerais de seus despojos, acompanhando, em vão, como mendigos de amor, os filhos interessados na partilha dos bens, a revelarem atitudes cruéis de egoísmo e ambição!

Com estas palavras de um amigo, finalizo minhas despretensiosas considerações sobre as responsabilidades domésticas, mas duvido que existam pais e filhos na carne com bastante sensatez para nelas acreditarem.

Irmão X, psicografia de Chico Xavier

quarta-feira, 6 de maio de 2009

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quarta-feira, 29 de outubro de 2008


Atitudes

"Atitudes são posturas internas. "Como" me coloco internamente diante das situações e de outras pessoas. Os vícios e virtudes são, em primeiro lugar, atitudes. Se coloco o nariz para cima ou para baixo, por exemplo. Se tenho um coração grande ou pequeno. Se tenho "abertura" para aprender ou se acho que já sei tudo que preciso saber. Se já desisti de mexer em minha mala porque tem muita coisa lá dentro que não consigo tirar, nem transformar. Desistir é uma atitude. Ir em frente depende de outra atitude."
Ken O'Donnell

Contentamento


“Todos amam o contentamento. Essa virtude tem a especialidade de ser preenchida de todas as realizações porque onde há contentamento não há nada faltando. Onde há contentamento outras especialidades vêm e por isso há sempre vitória. As situações externas continuam a mudar, mas o poder do contentamento precisa continuar e aumentar. Seja qual for a situação, aquele que é contente é capaz de mudar cada cena com o estágio de ser um observador desapegado.”
site da Brahma Kumaris

domingo, 26 de outubro de 2008

Janusz Korczak: Como amar uma criança...


Rafael F. Scharf
Vice-Presidente da Associação Internacional Janusz Korczak da Inglaterra

A vida de Janusz Korczak é tão tocante que, ao contá-la, é necessário evitar a ênfase patética que se impõe, a fim de permanecer-se fiel àquele sobre o qual falamos.

Ele era, na mais profunda acepção do termo, um homem simples, toda afetação lhe era estranha. É certo que ele não imaginava que seu nome seria célebre, e é por isto que cada vez que o glorificamos publicamente, inaugurando um monumento em sua homenagem, eu me pergunto qual seria o seu comentário se sua boca de pedra pudesse falar.

Sua história foi recontada inúmeras vezes e continuará sendo, porque ela mostra melhor, sem dúvida, não importando o caso particular, o horror inexprimível da última guerra e a exterminação dos judeus poloneses.

Em 5 de agosto de 1942, durante a liquidação do gueto de Varsóvia, os hitleristas ordenaram o agrupamento das crianças do orfanato de Korczak e o envio das mesmas ao campo de morte de Treblinka. O ‘Velho Doutor’ reuniu duzentos pupilos, os fez colocar-se sabiamente em fileiras e, à sua frente, partiu com eles para o ‘Umschlagplatz’, no cruzamento das ruas Stawki e Dzika, onde todos foram colocados em vagões de carga e enviados para os fornos crematórios.

Esta marcha nas ruas do gueto foi vista por algumas centenas de pessoas, e a silhueta pequena de Korczak dirigindo-se para seu calvário, inconsciente de seu heroísmo, fazendo aquilo que lhe parecia evidente, excitava as imaginações. A novidade espalhou-se imediatamente, repetida de boca em boca com a força de detalhes inventados: que Korczak carregava nos braços os dois menores, coisa pouco provável, porque ele mesmo estava doente e tinha dificuldades em andar; que o ‘Jundenrat’ tinha intervindo no derradeiro momento e tinha despachado em seguida um mensageiro atrás da fila, portador de um salvo conduto somente para Korczak, que foi por ele rejeitado com desprezo; que para apaziguar as crianças ele tinha lhes dito que iam em excursão e que eles, confiantes, o seguiam sem choro e sem protesto. Mas nenhum embelezamento é necessário diante dessa verdade nua e crua; não é preciso ajuntar qualquer coisa para torná-la mais eloqüente. A antítese do espírito e das dificuldades é clara e definitiva: um homem sábio por excelência, desinteressado e bom, opondo-se aos covardes, bárbaros obtusos, que se mostravam sob seu aspecto mais satânico.

Entre os milhões de mortes anônimas, a de Korczak tem um grande significado. Nos campos e guetos, ele se tornou para muitos, uma inspiração, pois aí o que mais ajudava a sobreviver era a convicção obstinada e indestrutível que a dignidade humana poderia vencer , embora tudo parecesse provar o contrário.

A imprensa clandestina dos campos mostra bem o quanto esta derradeira caminhada sublime do Velho Doutor foi um reconforto e uma dose de ânimo para seus contemporâneos. A partir daí sua glória tem crescido e o mundo fez de Korczak um símbolo moral.

É preciso que nossa atenção à sua morte não obscureça o caráter de sua vida. Henryk Goldszmit (este era o seu verdadeiro nome – Janusz Korczak foi um pseudônimo tirado de um romance pouco conhecido de Kra Szewski) nasceu em Varsóvia há pouco mais de cem anos numa família abastada. O fato de seu pai ter sido um advogado conhecido e seu avô um médico mostra até que ponto o seu meio foi assimilado. Ele cresceu na solidão, preservado das influências do exterior, sem se dar conta de que era judeu e sem saber o que isso significava. Antes de terminar a escola ele perdeu o seu pai, atingido por uma doença mental. A miséria sucedeu a abundância. O jovem Henryk tomou sobre si, da maneira como pode, o encargo de sua mãe e irmã, e nos anos seguintes, freqüentemente passando fome, estudou medicina com enormes dificuldades. Quando, por fim, obteve seu diploma, as coisas começaram a melhorar, contribuindo também para isso sua reputação de escritor que se afirmava. Mas isto não durou muito tempo. Repentinamente um tipo de necessidade interior mudou completamente seu destino.

Com trinta e quatro anos ele abandonou o exercício da medicina para se ocupar de um orfanato, que do início ao seu fim, permaneceu associado ao seu nome. A idéia fixa de consagrar sua vida às crianças parecia possuí-lo. Ele não era um idealista ingênuo; o que o caracterizava era uma compreensão extraordinária da criança e a convicção da necessidade de lutar pelos seus direitos no mundo governado pelos adultos. Ele não tinha confiança no mundo governado pelos adultos, mas como cada verdadeiro reformador ele julgava que mesmo uma só pequena vela acesa valia mais que lamentar-se de escuridão. Sua intuição não excluía sua sensibilidade e ela está edificada sobre uma observação constante, clínica, poder-se-ia dizer, sobre um estudo minucioso dos fatos. Totalmente absorvido por sua única idéia, não havia lugar nele para tudo que os outros davam tanta importância – dinheiro, a celebridade, um lar, uma família.

Seu orfanato, construído e mantido exclusivamente graças às doações de pessoas caridosas, era destinado às crianças dos bairros pobres de Varsóvia. A obtenção de fundos para fins de caridade tinha então, como hoje, seu aspecto desagradável, que freqüentemente irrita aqueles que dela dependem. Korczak balançava a cabeça em desaprovação perante o preço do material gasto para encerar o assoalho antes de um baile de benemerência e ele se lamentava do tempo que perdia com quem vinha visitar o orfanato. Mas a força de sua personalidade fazia que os doadores considerassem uma honra o financiamento de seu trabalho.

No domínio da educação e da psicologia da criança, ele era um pensador pragmático original e, ao mesmo tempo, um pioneiro de princípios que serviam de modelos para outros. Ele se esforçava constantemente de refazer seu sistema baseado sobre a compreensão das necessidades mais profundas da criança. Sua influência se exercia tanto por sua presença direta quanto pelo que escrevia no jornal do orfanato preparado pelas crianças e destinados à elas mesmas; a leitura em comum dessa publicação era um acontecimento semanal dos mais importantes. Conta-se que ao longo de 30 anos de seu trabalho intenso, ele jamais deixou de fornecer um artigo por semana à redação. As regras do orfanato eram seguidas por um código, cujo parágrafo 1000 previa como a pena mais alta, a expulsão pura e simples. Cada criança que tinha reclamação contra outra tinha o direito de a fazer comparecer perante um tribunal composto por seus colegas. Korczak mesmo, se tivesse sido convocado, teria de se apresentar perante este tribunal e de se submeter a sua sentença.

À noite, após uma ronda em todos dormitórios, o Velho Doutor retornava ao seu quarto no sótão, a única ‘casa’ que ele teve durante toda a sua vida adulta, e lá, até tarde da noite, ele colocava ordem em suas notas e escrevia.

Ele era um escritor fecundo tanto no seu domínio profissional quanto, e antes de tudo, na sua criação para as crianças e sobre as crianças. Seus livros ilusoriamente simples nas suas formas e conteúdos, impregnados na mesma proporção de melancolia e humor, refletindo seus anseios interiores, muitas vezes satiricamente áspero em relação a sociedade, sempre cheios de emoção e compreensão, deixavam traços duráveis na memória de seus leitores jovens e velhos, destinando-se a ficar gravados na história da literatura desse gênero.
Lá pelos meados dos anos trinta Korczak envolveu-se em dois empreendimentos na Palestina. O que ele aí viu o comoveu e o refrescou espiritualmente. Sob o encorajamento de numerosos amigos e antigos discípulos ele começa então a pensar seriamente em fixar-se lá para sempre. Mas havia obstáculos. O que o atormentava sobretudo, era o medo de não encontrar um sucessor adequado para continuar seu trabalho em Varsóvia. Ou seja, o pensamento de se afastar de sua terra natal lhe era insuportável. Nas cartas que ele escrevia aos seus amigos para explicar as causas de suas hesitações ele invocava o ‘seu Vístula’ e ‘sua Varsóvia bem-amada’, das quais ele jamais se consolaria se tivesse que deixar. Além do mais, ele estava sem dinheiro e hesitava em se colocar dependente de qualquer um.

Quando os hitleristas fecharam os judeus de Varsóvia dentro do gueto, o orfanato perdeu sua casa à Rua Kruchmalna, do lado ‘ariano’, e transportou-se para locais provisórios, no interior dos muros do gueto. Naquele momento Korczak já percebia melhor que a maioria das pessoas que a máquina impiedosa os mataria a todos. Mas ele pensava em não renunciar ao seu direito de aliviar os sofrimentos. Alquebrado e doente, cada dia ele reunia as forças que lhe restavam e partia à procura de viveres e de medicamentos para as crianças. Às vezes ele não trazia nada de suas buscas obstinadas, outras vezes ele voltava somente com uma ínfima parte do necessário. Ele não temia solicitar com impertinência, de mendigar, de envergonhar as pessoas que se esquivavam de sua nobre ação. Nos dias em que ele nada encontrava ele não hesitava em dirigir-se mesmo aos piores especuladores e opressores judeus. Apesar de fome incessante cada vez mais insuportável e às doenças sempre mais freqüentes, ele cuidava para que seu orfanato funcionasse normalmente, a fim de que seus alunos pudessem sentir-se bem. Freqüentemente ele trazia dos locais mais distantes uma nova criança encontrada na rua, no fim de suas forças, para quem a bondade do Velho Doutor significava a salvação durante algum tempo ainda.

Nestas condições rigorosas levadas ao extremo e que em tempo normal é difícil de se imaginar, nós temos em Korczak, no seu trabalho cotidiano, um exemplo do que pode fazer um genuíno homem guiado pelo amor.

Sua vida é um modelo e somos tentados a ver nele, nesta silhueta franzina revestida de avental de inspetor que ele usava habitualmente, um exemplo típico de toda uma geração, uma encarnação da ‘idade da criança’. Sua grandeza, que consistia nem mais nem menos em fazer seu dever, podia ser aquela de qualquer um, e mesmo sua morte trágica foi uma coisa comum, lá onde o martírio estava na ordem do dia.

Durante o ‘Ano Korczak’, instituído pela UNESCO para celebrar o centenário de seu nascimento, os escritores, os sábios, as pessoas de boa vontade em todas as partes do mundo, procuraram enriquecer-se com o conhecimento desse homem e de suas idéias, de sua vida e de sua morte, através de livros, de artigos e simpósios.

É de se supor que graças a isto, numerosos são aqueles que tomaram conhecimento do seu nome e do que ele significa. Sem dúvida é na Polônia e em Israel que ele é mais conhecido. Mas, nesse mundo barulhento e apressado de hoje em dia, a lembrança empalidece rapidamente. A despeito de todos os esforços ela desaparece progressivamente, sob uma massa de outros negócios. Aqueles que amam Korczak e que crêem na força de seu exemplo sentiam que era necessário encontrar um modo mais concreto de imortalizar sua figura e suas idéias. Assim souberam com alegria que uma obra grandiosa seria realizada na Polônia com a aprovação e a sustentação financeira do governo: um Instituto Científico de Proteção e Educação Janusz Korczak.

Foi-lhe destinado um espaço deslumbrante de uma centena de hectares lá onde Vístula – o Vístula bem-amado de Korczak – contorna a localidade de Lomianski. O projeto já está pronto.

É um empreendimento magnífico que levará seu nome. Não uma estátua de bronze ou de mármore, mas um centro cheio de vida, para onde virão crianças de perto e de longe, onde elas crescerão, se instruirão, se divertirão juntas, próximas à natureza, numa atmosfera de compreensão e boa vontade para com todos. Os educadores e os professores aí se reunirão para aprender observar, para participar das experiências de trabalho com as crianças e os adolescentes, para aproximar-se da realização dos sonhos de Korczak, mesmo que isso seja um passo apenas para um mundo no qual as crianças possam viver felizes.

É um empreendimento magnífico que levará seu nome. Não uma estátua de bronze ou de mármore, mas um centro cheio de vida, para onde virão crianças de perto e de longe, onde elas crescerão, se instruirão, se divertirão juntas, próximas à natureza, numa atmosfera de compreensão e boa vontade para com todos. Os educadores e os professores aí se reunirão para aprender observar, para participar das experiências de trabalho com as crianças e os adolescentes, para aproximar-se da realização dos sonhos de Korczak, mesmo que isso seja um passo apenas para um mundo no qual as crianças possam viver felizes.

Comida para o pensamento


Barbara Ramsay reflete sobre o que é bom na alimentação e melhor ainda na dieta

O aviso “Leia sempre as entrelinhas”, usado para referir-se a hipotecas, contratos e negócios importantes, serve agora também para caixas de cereal, enlatados e garrafas de suco. Gastamos tempo nos supermercados examinando as etiquetas, tentando decifrar códigos estranhos com números e procurando coisas que sejam “poli” ou “mono” ou “des”. Quando Linus se recusou a comer o seu sanduíche de pasta de amendoim e Lucy perguntou por que, ele olhou para ela com horror e disse: “Olhe para a etiqueta no frasco. Essa coisa tem ingredientes demais!”.

As autoridades que cuidam dos alimentos têm muito o que responder. Eles dizem que nós não deveríamos comer laticínios, pois causam muco. Os vegetais não têm problema, mas cuidado com a famigerada berinjela. Ela tem a mesma estrutura celular das células cancerosas. Um tomate? Bem, ele é parte da família da beladona. Sigam a dieta de Pritikin e vocês comerão muitos grãos antes do meio-dia. Seja macrobiótico e você não comerá quase nada mais o dia todo. “Viva principalmente de frutas, mas sempre as cozinhe”, dizem. Mas há também aqueles que dizem: “Viva principalmente de frutas, mas nunca, em nenhuma circunstância, cozinhe-as”.

E não é apenas o comer que é perigoso. Beber é igualmente complicado. Chocolate, afinal de contas, é feito de leite. Café? Você deveria dizer “arsênico”. Chá é pior do que café, pois não contém apenas cafeína, mas também ácido tânico. Refrigerantes não têm ácido tânico, mas certamente têm cafeína. Eles também têm açúcar, exceto o tipo “diet”, que são mini-fábricas químicas à procura de um estômago para poluir. Os sucos deveriam ser espremidos na hora, senão não têm absolutamente nenhum valor nutricional e, pelo amor de Deus, não beba suco com nenhuma outra coisa. Claro, há ainda a água, mas a da torneira está cheia de coisas terríveis... E a que borbulha das fontes – bem, quem sabe o que contém a terra hoje em dia? Há ainda a água mineral, mas de fato os minerais não são realmente bons para você. Escute tudo isso e você acabará vivendo de água destilada e maçãs derrubadas pelo vento... e não estou tão certa com relação às maçãs.

Ainda há a questão vegetariana, um assunto que tem causado longas discussões com amigos. Para mim, quando minha filha era pequena e cantávamos “Mary tinha um carneirinho” e depois havia costelas de carneiro para o jantar, isso se fixava na minha mente e não saía. Mas... se eu disser que não como nada que pensa, ou que seja consciente, grandes debates surgem cheios de fatos sobre as cenouras que gritam quando você as corta, e outras questões, por exemplo, de “como você pode provar que um peixe pensa?”. Para evitar o problema, apenas diga “não como nada que tenha uma cara”. Não importa quais sejam as nossas escolhas alimentares ou opiniões, com todos os fatos e números, especulações e investigações, alguma coisa muito importante é sempre deixada de lado.

A comida alimenta não só o estômago e nutre não só o corpo. A comida também conforta o coração. Afinal, quantas mães oferecem um biscoito e também um abraço quando o filho cai? Quando a comida é dada com mãos amorosas, ela tem o poder de acalmar a criança que chora. Até mesmo quando somos adultos, o poder do conforto ainda existe aí. Em muitas culturas, quando alguém morre, há uma tradição dos vizinhos em trazer comida para a casa enlutada. Mais do que simplesmente permitir que os que estão de luto não tenham de cozinhar, o gesto significa “Eu me importo... eu estou aqui... depois disso, existe vida”.

As celebrações, também, sempre têm a comida em seu centro. Nós convidamos as pessoas para compartilhar uma refeição como sinal de amizade e celebramos os aniversários com um bolo. E o que é mais legal, caloroso e amigável do que fazer um doce para as pessoas com quem você se importa?

Sendo a vida o que é, há muitos regalos especiais para o palato, a barriga e o coração que nunca desaparecerão – não importa que sejam ou não bons para nós – e o mais importante são as coisas feitas à mão, por alguém que você conhece.

Claro, doces e biscoitos do supermercado ou jantares congelados e muitas outras coisas economizam o tempo das pessoas. Não é preciso ler receitas, nem passar um tempo extra na cozinha, nem lavar a louça depois. Mas mesmo que você os prepare cuidadosamente, com amor, eles nunca encherão a cozinha com os bons aromas do cuidado e aconchego culinários. Você não pode servi-los ainda quentes do forno e não pode assá-los junto com seus filhos.

Mas há ainda mais pontos a favor da comida caseira do que o sabor e o modo como cheiram. Mais ainda do que o ato de compartilhar. Embora seja verdade que “nós somos o que comemos”, é ainda mais verdade que “nós somos o que pensamos”, porque a mente humana é uma coisa poderosa. Poucas pessoas atualmente duvidariam de que nossas mentes enviam vibrações constantes, e essas vibrações afetam o mundo em que vivemos. É algo que as pessoas parecem ter percebido em um nível instintivo.

Uma vez, quando eu era pequena, lembro-me de ter ouvido minha mãe falar sobre uma briga e a atmosfera que essa discussão deixou. “Você podia cortar o ar com uma faca”, ela disse. Para minha mente de criança, isso era incrivelmente vívido. Eu quase podia ver o ar… grosso e um pouco pegajoso. Seria difícil andar contra um ar assim, eu pensei, e impossível correr ou pular. Por muito tempo, sempre que havia uma briga, eu olhava atentamente, procurando realmente ver o ar da sala, mas não tive de crescer muito para entender o que isso significava.

No tempo dos hippies felizes e dos “filhos da flor”, as pessoas diziam “boas vibrações, cara” ou “pesado”. Isso fazia sentido totalmente. Uma atmosfera cheia de antagonismos, ciúmes ou raiva é pesada e, de fato, cria uma sensação de que você quase pode cortar o ar com uma faca. Todos nós sabemos disso. Há inúmeros livros escritos sobre como usar os pensamentos corretos para criar sua própria vida, para transformá-la no que você quiser que ela seja. Todos concordam que os pensamentos são poderosos. Concorda-se que nossos humores podem afetar a atmosfera. E se nosso modo de pensar afeta as vibrações, também afeta a comida que cozinhamos. Todos os dias lidamos com vibrações que não podemos ver e ainda assim aceitamos completamente. Muitas dessas vibrações viajam distâncias incríveis e são captadas tão claramente e tão fortemente que chegam na forma de imagens e sons, claros o bastante para que todos vejam. A única razão pela qual não vemos a televisão como um pequeno cosmo, a única razão pela qual não a assistimos com ceticismo, é porque estamos acostumados a ela.

Com o clicar de um botão, a luz se acende, e nunca perdemos tempo pensando sobre como isso é impossível. De fato, se dependesse de nossa crença, provavelmente ainda estaríamos vivendo no escuro. Estamos acostumados a alguns milagres e outros são ainda simplesmente novos para nós.

Quando estamos cozinhando, nossas mentes estão trabalhando, as mentes fazem isso o tempo todo, não importa se queremos ou não. É isso que nossas mentes fazem. Quando estamos mexendo, enrolando e assando, estamos pensando, e o pensamento cria vibrações, não importa se queremos ou não, porque é isso que os pensamentos fazem. Se tivermos pensamentos positivos, então nossas vibrações são felizes, pacíficas e afetam a comida, afetando também as pessoas que comerão a comida.

Exceto nos lugares onde a sobrevivência é tão dura que a comida simplesmente mantém o corpo e a alma juntos, compartilhar a comida sempre é parte de momentos profundamente significativos... marcos na vida: o café da manhã do casamento, o banquete do batismo, a comida do funeral, o jantar compartilhado de ação de graças que celebra um compartilhamento mais antigo de comida entre duas culturas. Mesmo a palavra “comunhão” significa amizade e paz. Momentos profundamente espirituais utilizam a comida como moeda de passagem, não importa que seja no Ocidente, onde Cristo e seus discípulos compartilharam a Última Ceia, ou no Oriente, onde os adoradores recebem a comida que foi oferecida nos templos ou cozida na lembrança de Deus.

Os pensamentos são poderosos, e as vibrações criadas pelo que pensamos afetam a vida. Se nossos pensamentos forem cheios de negatividade, se cozinharmos quando estivermos com raiva ou chateados, corremos o risco, como em um conto da carochinha, de metaforicamente “engrossar o caldo”. Cozinhe com cuidado, cozinhe com amor e saiba que esse é um milagre sobre o qual você tem controle... um milagre que você pode fazer.

Está em nosso poder realizar esse milagre, como um presente, para as pessoas que comem o que cozinhamos. Está em nosso poder dar-lhes comida que contenha paz, amor, conforto e até mesmo um pouco de mágica. Nunca devemos nos esquecer de que, nas melhores receitas, o amor é o ingrediente secreto.

Barbara Ramsay é uma escritora freelancer de Melbourne, Austrália.